quinta-feira, 24 de novembro de 2022

 procuro em mim algo que talvez não eu mesma não saiba

procuro incansavelmente quem eu fui. quem eu era. quem sou 

procuro àquela que, com sua visão turva e postura incorreta, sentia 

ah... há tempos procuro sentir 

procuro sentir a chuva, o banho, um beijo, uma música

procuro em mim algo que escondi muito bem escondido 

procuro meu coração. minha coragem. 

depois de copos e mais copos, procuro em mim saudade

procuro meu olhar tênue e observador que já me rendeu amores, poemas e quadros

ei! você! é, você mesmo! pode me ajudar a procurar por mim? 



quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

21:10

fugi um pouco da bagunça que morava em mim
e busquei, insistentemente, encontrar algo que fosse sólido e seguro
algo que valesse a pena
hoje, caminhando vagarosamente ainda não tenho certeza de ter encontrado
mas continuo porque acho que qualquer dia desses, esse "algo" sólido se esbarra comigo
e juntos seguiremos até eu achar que preciso
lutei muito contra eu mesma, e hoje eu só quero descansar
pegar toda essa maluquice aguda que insiste em me habitar e sair pra tomar sorvete
ou pedalar... quem sabe?!
eu mesma não sei e nem sei se quero saber
por hora, confesso que até sinto falta de mim de antigamente
e de minhas paixões calorosas, minhas músicas, meu violão
minha mania de poeta, fotografa, compositora
hoje sou alguém bem mais centrado em apenas viver um pouco
um pouco de coisa por dia
um dia por dia
uma música por dia
não me entendo mais com meu violão e já nem tento mais
tento só apenas ser e voltar pra mim
um pouco pra mim de antes
não sei se é possível, mas segurei firme na tentativa
e serei exatamente o que terei de ser
nenhum acento a mais que isso

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

?

engraçado como o mundo parece pequeno aqui dentro de mim
me sento frente minha cama e quando lembro já passei horas revisitando eu mesma
sinto como se o mundo parasse, entende?
como se eu, aqui sozinha, tivesse tal poder de parar o mundo 
parar tudo e fazer com que tudo me espere até eu encontrar um caminho até a mim
até alguma coisa aqui dentro que não seja bagunçada ou confusa ou atrapalhada
tudo parece ser tão pequeno dentro aqui de mim que eu nem me ouço mais 
fico só murmurando musiquinhas que antes costumavam a me preencher, me trazer conforto 
ando esquecida por esses dias... não me acho de volta nos meus poemas 
tampouco consigo terminar os que outro dia iniciei no bloco de notas do celular 
queria eu, sozinha assim, me achar de novo e encontrar as rimas que me faltam 
encontrar a vontade que já me engasgou e a tomar pelas mãos
quem sabe eu até a chamaria pra dançar uma música lenta e, assim, me tornar familiar mais uma vez
será que um dia eu me acho de volta e consigo terminar essa espécime de poesia? 

terça-feira, 19 de junho de 2018

,

ando sentindo falta das músicas que antes eu cantava no chuveiro
as tinha pra mim como uma verdade absoluta, entende?
daquelas que a gente precisa repetir pra não esquecer nunca 
sinto falta de compor no ônibus de volta pra casa
e de me afundar no mais alto som dos fones de ouvido
sinto falta de quando me sentia poeta e me fotografava
sinto falta de me sentir assim, casa, lar e moradia de poemas
agora sou só uma página em branco
só um rascunho que nunca brota
nunca deixa as raízes germinarem
sinto falta de alguém que morava em mim
e sempre, sempre sentia algo quando descobria uma música nova
aquele alguém tornava mais bonito essa coisa de viver
sinto falta de mim
sinto falta de quem eu costumava ser

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

veranizar

sinto a grama verde acariciar meus dedos do pé
encho meu pulmão de ar e gosto do que sinto
respiro
é como se agora eu me revivesse em poema
e me reinventasse
inalo o aroma que suavemente me embriaga os olhos
ouço os pássaros cantarem como se celebrassem a vida
como se agradecessem esse céu imenso e azul
é como se eu me revivesse num poema
é como se a água que cai inundasse meu corpo
e, na mesma proporção que o esfria, o reconstrói
respiro
o vento me afaga os cabelos, que dançam inquietamente
é como se agora eu me revivesse num poema
já não mais tenho pulmão pra respirar tanto beleza
já não mais tenho olhos que aguentem tanta delicadeza
tanto poema
mas não me importa
é como se agora eu me revivesse em poema  

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

05:05 am

esse teu olhar tão mesquinho, teu jeito de amar
fui te amando tão sozinha, rindo quando queria chorar
me vi carregando o peso dos enganos
dos sonhos que me mentiu
esse teu jeito narcisista, de rir quando quer chorar
te amei como uma insana
mas não me lembro do que me deu
te amei como uma insana
já nem lembro o que me deu
me enganei imaginando anos
quis ir até pra igreja, tenho coração de ateu
meu bem, eu queria ser casa e abrigo teu
te amei imaginando anos
já nem me lembro do que me deu
rezei tanto pelos danos, e tenho coração de ateu
te amei imaginando anos
e a vida me esqueceu, nesse meu cotidiano
tem tudo menos eu
e o que me sobrou de humano
ensaia te dizer adeus



segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

mar

estou agora sentada à imensidão do mar
as ondas chegam de mansinho
e de mansinho me roubam de mim
o silêncio se apropria desse cantinho aqui 
e nesse cantinho eu observo o mar
que é vento 
sinto o vento
poucos são os que sentam-se à imensidão do mar
e observam as curvas das ondas e as estripulias que a água faz
feito fosse água viva
mas que força a água tem senão a de ter força alguma?
o que tem de tão forte é não sucumbir aos desejos do vento
que invade
dei-me conta um tanto tarde de não tentar resistir a nada, feito a água
que se por disponível aos ventos de tudo é uma das mais bonitas versões
da coragem  
da paz
tranquilidade
e o vento carrega a água mostrando que todos os rochedos que é lançada
são partes do seu caminho tranquilo rumo a não saber onde vai
e  a água vai passando por ali, aceitando-os sem tentar resistir
derrubá-los
fugir
e eu que tanto quis resistir 
que já criei tantos tsunamis em mim 
vejo-me agora, dançando feito água
já não me encanta saber se tenho rumo
ou tampouco pensar nisso
já não mais imploro que me amem, ou que queiram me amar, que me esperem
que voltem, que me sigam 
vendaval passa
rochedos ficam para trás
e eu serei quem tiver de ser
quem eu conseguir construir a ser
serei somente quem for e nenhum palmo além disso
ser água é ir
e eu vou 
meu encantamento encontra-se em não pensar, somente seguir
reduzida a mim, eu vou.